Dr. Eduardo Gomes

“Tive um troço, fui para a emergência, mas chegando lá me medicaram e disseram que era ansiedade. É verdade, Doutor?”

Ansiedade

Dentre os sinais e sintomas colhidos, não somente em consultórios de psiquiatria, a chamada “ansiedade” é o mais comum deles, uma entidade quase onipresente.

É tão comum, que o mero contato com um profissional de saúde pode gerá-la, ganhando inclusive um nome muito conhecido no meio médico: é a “síndrome do jaleco branco”, que é um “nervosismo” ao ficar de frente ou ter a mera idéia de ir a esse profissional.

O paciente ou acompanhante, em quase cem por cento das vezes, diz frases como estas: “Doutor, sou uma pessoa muito nervosa”; “Doutor, sou uma pessoa muito inquieta, agitada; “Doutor, sou um poço de preocupação, com tudo eu me preocupo”; “Eu sinto receio de tudo”; “Eu fico apreensiva com o futuro”; “Eu sinto é muito medo mesmo”. E não faltam variantes para esse tipo de queixa.

Qual médico trata os transtornos de ansiedade?

Antes de falarmos sobre os transtornos de ansiedade, é importante saber que o médico treinado para diagnosticar e dar o melhor tratamento para os pacientes com transtornos de ansiedade é o psiquiatra.

O Dr. Eduardo Gomes é médico psiquiatra experiente, atuante em Fortaleza, e realiza um atendimento psiquiátrico acolhedor, com calma e tempo para ouvir o paciente, buscando entender o seu problema e a melhor forma de tratá-lo.

Currículo:

  • Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC)
  • Residência Médica em Psiquiatria pelo Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) – UFC
  • Experiência em atendimento no sistema público (Centro de Atenção Psicossocial – CAPS) e privado
  • Licenciatura em Física pela Universidade Estadual do Ceará (UECE)

O Dr. Eduardo possui certificados de excelência e mais de 110 comentários 5 estrelas no Doctoralia, além de avaliação 5 estrelas também no Google.

Veja alguns depoimentos de pacientes reais:

A ansiedade nem sempre é algo ruim

Já respondendo a parte do final da pergunta do título, não, a ansiedade nem sempre é algo ruim. Muito pelo contrário. Uma boa analogia que podemos fazer da ansiedade é compará-la a um imã que todos possuiríamos dentro de nós (lembre-se que é uma analogia). Todo imã tem dois pólos. Um pólo positivo e um negativo.  O pólo positivo, atraente, seria a “ansiedade boa”.  E o pólo negativo, repelente, seria a “ansiedade ruim”

Por exemplo, se aguardarmos algo que está para chegar, como uma encomenda, uma pessoa querida etc., isso seria uma ansiedade boa, agradável. Atraímos. Por outro lado, se estiver perto do dia de pagar as contas, de falar com aquela pessoa um tanto desagradável, desejamos que isso seja adiado o máximo possível. Repelimos.

Dessa última frase, já podemos depreender que ansiedade nos envolve com algo mais primordial, algo mais essencial, instintivo, uma força cega também chamada desejo. Esse instinto, desejo, esse algo que busca nos preservar, buscando o que é “gostosinho” e fugindo do desconforto, sem pensar, vincula-se ao muito conhecido “princípio de luta e fuga” de todos os animais. 

Se admitirmos que isso em parte é uma programação ou predisposição programadora genética, nós, os seres humanos, temos uma versão sofisticada desse princípio: a ansiedade.

Outra analogia útil, é comparar essa ansiedade a um chicote que estala em nossas costas no instigando a nos movimentar, seja para lutar pelo tal “gostosinho” (como os animais), seja para fugir do desconforto.

Sem uma “ansiedade ativa e estalando”, nem nos daríamos ao trabalho de nos prepararmos para as provações do dia-a-dia (sejam elas acadêmicas, laborais etc.). Aqui queremos já demonstrar o quão útil essa ansiedade é.

Ansiedade patológica

“Mas e aí, Doutor, eu tenho mesmo é crise de ansiedade. Sofro muito com isso e o senhor vem me dizer que é bom. Valha-me Deus!”

Não é ansiedade propriamente que faz o ser humano sofrer. Mas o excesso dela, o descontrole da mesma. Como diz o ditado popular: “tudo demais é sobra”, “tudo demais é veneno”.

A ansiedade, já compreendida na analogia do imã ou do chicote, é um mecanismo complexo que envolve desde o sistema sensorial, sistema nervoso central, sistema endócrino e sistema nervoso periférico (simpático e parassimpático).  Não vamos entrar em todas as minúcias. Com as analogias fica mais fácil entender.

Esse fenômeno vivido por toda a humanidade, a ansiedade, pode surgir, expressar-se, a partir de cogitações puramente mentais, lógicas, progressivas, gradativas.

Também pode surgir, expressar-se a partir de um mecanismo mais rápido e direto que diríamos “emocional”, “afetivo”. A palavra “emocional” ou “afetivo” aqui representa apenas um campo semântico, ou campo de idéias. Se falo de resposta emocional, o campo seria afeto, sentimentos, humor, emoção, paixão.

Primeiramente, nos deparamos com objetos com os quais nos “afeiçoamos”, criamos interesses por eles. Esses objetos podem ser uma “coisa” (uma roupa por exemplo), uma pessoa, uma ideia. Seja qual for, fazemos laços e internalizamos na memória todos estes.

Quando nosso envolvimento, nossa interrelação com esses (coisa, pessoa, ideias) é afetado de tal modo que percebemos que há uma não conclusão, um desencaixe, uma não garantia, uma ameaça etc., ou seja, não está do jeito que planejamos ou queríamos, no tempo que queríamos, nossa psique e (muitas vezes) o corpo, reage manifestando o já mencionado princípio de luta e fuga, porém nos seres humanos bem mais sofisticadamente.

Uma pessoa se depara com um problema, algo que tem que se desenrolar no tempo. Inicialmente, surge uma pequena preocupação. Muito normal. Inclusive essa pré-ocupação pode ser boa e até agradável. Mas isso pode evoluir para um leve, moderado ou grande receio, enfim ganha matizes de apreensão e por último pode descambar para o franco medo. Todo o processo começou quase cem por cento racional e findou emocional.

Para facilitar, vamos lançar mão de mais uma analogia. Vamos dizer que campo racional e campo emocional são como dois grandes programas ou duas necessárias ferramentas que, para funcionarem direito, precisam muito uma da outra.  Ao resolver o problema, iniciou-se usando a razão, mas essa foi dando aos poucos espaço para a emoção ou afeto.

Os conceitos acima servem para começarmos a entender o que dispara a ansiedade.  Já percebemos que esse fenômeno pode começar com uma preocupação (no uso – eficiente ou ineficiente – da razão) e findar com uma emoção, sendo eivada, saturada do desejo, do instinto ou princípio de luta e fuga.

Entre um extremo e outro há inúmeras gradações. Poder-se-á dizer que ela, a ansiedade, chegará ao pico desse processo quando cada um desses também estiver no pico, havendo um exagero no uso dos processos racionais, emocionais e volitivos (nesse caso o desejo mal direcionado). Tudo será afetado, GENERALIZADAMENTE.

Nesse ponto extremo, de resposta exagerada, haverá uma grande percepção (maioria das vezes enganosa) de insegurança ou de grande ameaça à vida (ou aos planos, ou a qualquer objeto dos afetos).

Sintomas de Ansiedade

Vejamos a seguinte situação: imagine uma pessoa andando na Caatinga nordestina. Há matas razoavelmente altas que pode encobrir algumas feras, como uma Jaguatirica ou um Gato Mourisco. Geralmente esse felinos correm ao ver um ser humano, mas ninguém pode se fiar nisso. Por isso mesmo, ao “colocar os olhos” na fera, se terá a mesma sensação que uma ovelha tem ao olhar para um lobo pela primeira vez: ela sabe que aquilo não presta para ela e que ameaça seu bem mais precioso, sua vida (máximo investimento afetivo).

Esse recorte da imagem que chega aos olhos não fará que se chegue a conclusões de que o felino sairá voando, converse, o esnobe e o despreze. Não. A conclusão imediata é que sua garganta está em perigo. Essa informação, obtida pelos sentidos, se espalha pelo cérebro e dispara todos os controladores glandulares e do sistema nervoso autonômico. Dentre eles, aquele que por fim dispara as glândulas suprarrenais e demais fontes de adrenalina do corpo.

O corpo, agora subitamente encharcado de adrenalina (e também cortisol), se prepara para um intenso “luta ou fuga”. O coração baterá mais rápido para levar sangue e oxigênio para os órgãos nobres. Os vasos mais grossos (calibrosos) se dilatarão e os mais finos (que estão em braços, pernas) se contrairão. Fica-se pálido. O esforço faz o sujeito suar e como há menos sangue em braços e pernas (houve a contração), haverá percepção de suor frio (em mãos e pés). Isso ocorre muito rapidamente, alterando a pressão vascular e ocorrerá a percepção da tontura. Pequenos vasos, como os da retina, são afetados e ocorrerá a sensação de vista turva. O sistema autonômico (simpático e parassimpático) fica frenético, podendo ocorrer náuseas e até liberação esfincteriana (urina e fezes saem). E ainda, principalmente para quem não é acostumado com essa situação, pode haver ameaça de desmaio (desligamento da máquina) ou desmaio propriamente dito. O que não é nada bom diante de tamanho perigo.

Ok. Tudo isso é legitimo quando se está diante de uma fera e não se é um caçador acostumado com isso. Mas, pense. Tudo isso também pode acontecer porque está chegando o dia do pagamento das contas. Porque foi demitido. Porque foi contrariado, decepcionado, frustrado etc. Essa explosão reativa estará absurdamente desproporcional. É como ver numa formiga uma ameaça e tentar matá-la com uma bazuca.

Raízes da ansiedade

Mas a grande pergunta é: “Doutor, eu não sei por que reajo assim. Tanta gente passa o mesmo que eu passo. Por que só eu desenvolvo toda essa aflição?

Para respondermos essa pergunta devemos apelar ao inconsciente, para aquelas memórias reprimidas, recalcadas. Aqueles geradores de crenças, pensamentos e ações automáticas.

A melhor forma de explicar isso é dar um hipotético exemplo. Imagine uma família com quatro componentes. Um pai, uma mãe, um filho mais velho e um mais novo. O pai, com comportamento boêmio, chega em casa e ainda “cheio de razão” (manguaça). A mãe, um tanto amargurada, mas de perfil controlador e típica matrona, inicia conflito com esse pai na frente dos filhos. 

O filho mais velho, mais desenvolvido e corpulento, tenta apartar e fica furioso também. Já o mais novo, franzino, se esconde para não sobrar para ele. Passam-se décadas e aqueles eventos da infância e adolescência nem sequer estão frescos na mente desses meninos. No entanto, ao menor sinal de um pequeno conflito, uma fagulha qualquer, uma tiquinho de só um saborzinho bem distante daquilo que ocorrera lá atrás é o suficiente para disparar todo ou em parte daquela carga que cada um sentira.

O mais velho fica logo emburrado e furioso e o mais novo, trêmulo e taquicárdico. Veja. Quando crianças, lhes pareceu muito útil esse modo de enfrentar aquela situação. Mas isso gerou uma programação, um automatismo tal que em parte ou no todo a racionalidade é bloqueada e o afeto é disparado em sinal de alarme.  Se chegará à conclusão que se passou anos, décadas alimentando todo um modo de ser, um conjunto de hábitos bem personalizados que empurram a pessoa a, enfim, agir em determinada circunstância de um jeito nada favorável, ficando aflita, agitada e até a beira de perder o controle (quando se usa a bazuca para matar a formiga).

Certo, doutor, já estou tendo alguma noção do que seja ansiedade. Até me identifiquei com algumas histórias. Mas o que é que eu faço? Se ficou torto, não desentorta mais?

Calma, Padawan. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. É possível depreender do texto acima que:

  • Primeiro: ela existe (acredite que tem pessoa que acha que é “frescura” quem se mostra em crise ansiosa).
  • Segundo: ela pode manifestar-se leve e até benigna e favorável, ficando muitas vezes restrita a processos lógicos da mente e imperceptivelmente com correspondência emocional ou física.
  • Terceiro: ela pode envolver mais e mais o componente afetivo/emocional, tendo muitos gatilhos de objetos eleitos para investimento afetivo pessoal disparados e que costumeiramente nublam a razão.
  • Quarto: generaliza-se a tal ponto que o próprio corpo manifesta de modo bem claro o estado ansioso (taquicardia, falta de ar, mãos suando frio etc.)

Foram colocados esses pontos de forma graduada, mas é comum que seja tão rápido que nem se perceba essa evolução.

Estando o paciente em busca de entender e tratar essa ansiedade, conforme ele esteja mais avançado na evolução da mesma, mais ele precisará de intervenções químicas (uso de remédios) e também o diagnóstico mudará de acordo com as circunstâncias e até o objeto que porventura venha ser o gatilho da crise.

Não estamos aqui tentando desenvolver um raciocínio formador de um espectro ansioso, mas apenas explicar o fenômeno sob o ponto de visto do sujeito que vive a ansiedade (mórbida).

Tipos de transtornos de ansiedade

Já podemos ser mais arrojados e apresentar três diagnósticos comuns de ansiedade (mórbida):

  • TAG (transtorno de ansiedade generalizada)
  • Pânico
  • Síndrome de pânico

Transtornos de ansiedade generalizada (TAG)

Todo mundo tem direito de se sentir ansioso aqui e ali nos eventos da vida. Ainda pode se dizer mais. As pressões da vida são tão grandes que até uma crise ansiosa não é algo absurdo e necessariamente tachável como um transtorno.

No entanto, há pessoas em que essas crises passam a surgir com maior frequência e ainda por cima com várias vezes acontecendo sem um motivo aparente bem esclarecido. Ela chega à fase final daquela progressão acima: fica taquicárdica, com falta de ar (dispneica), suando frio nas mãos, nauseada etc. Ela até pensa em ir se medicar. Porém, uma característica bastante importante é que ela não tem um forte bloqueio da razão, uma sensação de terror, uma ameaça tão grande à vida que ela pense que vai morrer (comumente de infarto, AVC ou, como dito no título, sofrer qualquer outro “troço”). A primeira, com crises frequentes, porém não sendo caracterizada pela perda total do autocontrole e vivenciando estados de terror, é o TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada).

Por que esse nome? Porque, como explicado acima, o fenômeno era restrito, perceptível só pela mente e agora se espalhou para o corpo inteiro. Generalizou-se.  O sistema está começando a entrar em pane.

Pânico e Síndrome de pânico

A segunda é o pânico. O pânico pode ter tudo que o TAG tem, mas não necessita que tenha acometimentos frequentes ou que a determinação do gatilho seja imprecisa. A crise de pânico pode acontecer com qualquer pessoa, bastando para isso romper seus limites de autocontrole. 

Mas se essas crises de pânico começam a ficar também frequentes e ainda passaram a adicionar outros sintomas como mudanças no modo de ser, de se comportar, de encarar a vida, de tomar decisões etc. (tudo baseado no receio de uma nova crise de pânico), ter-se-á uma síndrome de pânico.

Falamos de apenas três entidades nosológicas (são classificadas e recebem um número, o CID). Há várias outras que não é objetivo do texto esmiuçá-las.

De acordo com objeto, circunstâncias e até mesmo épocas da vida, se terá transtornos diferentes e que são mais comuns. Assim, existem o transtorno de ansiedade social, o transtorno de adaptação, o transtorno de estresse pós-traumático, as fobias específicas (agorafobia, claustrofobia, p. ex.) etc.

Tratamento dos transtornos de ansiedade

Doutor, eu quero é ficar bom. Como é que trata?

Sempre é bom lembrar que um tratamento psiquiátrico é multiprofissional. Se estamos falando de algo leve, uma crise pontual com disparador bem determinado, uma medida emergencial (com algum calmante psicofarmacológico ou não) e um breve acompanhamento psicológico podem resolver.

No entanto, se esse transtorno vem se repetindo há algum tempo, gerando sofrimento, perdas, prejuízos, aí é hora de uma terapêutica mais robusta. É bom falar com um psiquiatra.

O psiquiatra (como dito no texto “para qual profissional devo ir primeiramente”, confira), passa remédios, medicamentos. São várias as classes de medicamentos para tratar ansiedade. As mais comuns utilizadas são os ISRS (inibidores seletivos de receptação da serotonina) e os benzodiazepínicos (que compreende várias substâncias).

Deve-se asseverar que não existe pílula mágica e que a medicação melhorara o ambiente bioquímico e fisiológico do paciente, dando-lhe condições para exercer melhor suas próprias faculdades. Não lhe conferirá novas habilidades como ser paciente, calmo e prudente, embora as perceba provisoriamente presentes ou melhores.

Isso significa que deve haver entendimento do que se tem (como saber se há um diagnóstico, tarefa do psiquiatra) e das melhorias e mudanças que se deve implementar. Estas podem envolver, inclusive, uma melhoria na alimentação. Os profissionais que concorrem para esse intento, além do psiquiatra, são o psicólogo, o nutricionista, o educador físico etc.

Por fim, devemos esclarecer que a ansiedade, assim como outras entidades psiquiátricas, pode surgir secundariamente a outras etiologias clínicas e até mesmo psiquiátricas, formando, neste último caso, síndromes mistas. Nada mais natural, pois é até previsível que uma pessoa, por exemplo, que sofreu um AVC ou um infarto fique apreensiva, ansiosa a níveis que instigam tratamento.

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